quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

Importa-se de repetir?

Não seria um "Red Light District", mas um espaço próprio para a prática de sexo seguro e sem lenocínio na capital. A Câmara de Lisboa recebeu uma proposta de duas associações para criar um bordel na Mouraria, e vai estudá-las no decorrer deste ano. Primeiro, e já este ano, as associações da zona vão tentar encontrar formas alternativas de vida para as prostitutas do bairro e a respectiva associação numa cooperativa. Caso se conclua que a "Safe House" – é esse o nome do projecto – é uma boa solução, a autarquia cede, em 2013, um imóvel para instalar o bordel."

Marinho Pinto, o incendiário


Sem comentários.

sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012



"A vida é boa demais para ficarmos sempre no mesmo sítio."


Luís Simões,urban sketcher, com site aqui.

O Acordo inexistente

Sobre o Acordo Ortográfico, Vasco Graça Moura clarifica no DN:
"Não estando em vigor na ordem jurídica internacional, nem ele nem, por identidade de razão, o bizarro segundo protocolo modificativo, uma vez que também não foi ratificado por aqueles estados, o AO não está nem pode estar em vigor na ordem jurídica portuguesa.

Ora, sem o AO estar em vigor, a solução é muito simples: continua a vigorar a ortografia que se pretendia alterar."

Cá está um pormenor jurídico que me escapava.
Assim sendo, para todos os efeitos, a Acordo Ortográfico não existe.

quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

Inqualificável selvajaria


O emigrante português, que vivia há 12 anos na Bélgica em situação legal, tinha sido despedido da empresa de construção belga Cassal há cerca de dois anos. Como não encontrava trabalho decidiu aceitar o que seria apenas um pequeno biscate não declarado como estucador, três dias por 500 euros.
Levantou-se às cinco da manhã, entrou às 6h e, ao final da manhã, caiu de um andaime vítima de um ataque cardíaco. No estaleiro gerou-se o pânico e o responsável logo chegou para tratar do assunto, noticiou a imprensa. Só que o patrão, em vez de pedir socorro, chamou dois funcionários para ajudarem a transportar o homem para um camião. Depois de uma viagem de duas horas abandonaram o corpo numa ruela deserta de um parque de Bruxelas. De regresso ao trabalho, retomaram a obra."

terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

E assim se faz a Vida



"É uma história que faz lembrar o Jurassic Park, sem âmbar nem dinossauros mas com a ajuda de esquilos pré-históricos: os cientistas russos conseguiram fazer crescer uma flor a partir de material vegetal congelado há 30 mil anos que foi guardado em buracos pelos pequenos mamíferos da época. Os resultados da investigação foram publicados agora na Proceedings of the National Academy of Sciences.

O poder de conservação das plantas é bem conhecido pelos cientistas. As sementes podem germinar passado muito tempo, 2000 anos até, no caso de sementes de palmeiras encontradas numa fortaleza de Masada, perto do Mar Morto, em Israel. Mas os resultados obtidos pela equipa liderada por Svetlana Yashina e David Gilichinsky, da Academia de Ciências Russa, não têm precedentes. “No presente, as plantas da S. stenophylla são os mais antigos organismos multicelulares viáveis”, escreveram os autores no artigo.

A planta que conseguiram regenerar da espécie Silene stenophylla continua a crescer na Sibéria. Mas este material biológico da flor estava escondido num dos 70 buracos de hibernação feitos pelos esquilos que viviam naquela altura, que os cientistas investigaram, no Nordeste da Sibéria.

“Todos os buracos foram encontrados a profundidades de 20 a 40 metros, da superfície de hoje, e estão localizados nas mesmas camadas onde existem ossos de grandes mamíferos como mamutes, rinocerontes-lanudos, bisontes, cavalos, veados, alces, e outros representantes da fauna” do Plistocénico tardio, escreveu a equipa.

Os buracos estão na acamada de permafrost, uma camada de solo gelada e que funciona como um congelador gigante. Este solo manteve durante dezenas de milhares de anos o material a uma temperatura média de -7 graus célsius. No laboratório, através da técnica de Carbono 14, os cientistas aferiram a idade do material, que tem cerca de 31.800 anos, com um erro de 300 anos. 

O material continha sementes e partes do fruto da espécie vegetal. A equipa tentou germinar as sementes, mas não obteve sucesso, depois utilizaram partes vivas do furto da planta. Ao contrário dos animais, é possível regenerar uma planta a partir de partes vivas de um espécime, que nas condições certas, acabam por se desenvolver dando origem a raízes, caules, folhas, flores e frutos. No fundo, desenvolve-se um clone. Foi o que aconteceu nesta experiência, os cientistas colocaram a germinar pedaços do fruto, que germinou e deu uma planta com flores. Os cientistas conseguiram ainda produzir novas plantas a partir das sementes produzidas por estas flores.

Segundo os autores, este “milagre” foi possível, porque as células do fruto utilizadas para a germinação eram ricas em açúcar, o que protegeu o ADN e o material das células do frio. Esta protecção possibilitou a multiplicação celular quando a equipa pôs o material a germinar.

“Isto é uma enorme descoberta”, disse Grant Zazula, cientista do Programa de Paleontologia de Yukon, do Canadá, ao New York Times, defendendo que “não tem dúvidas” dos resultados obtidos pelos cientistas russos serem verdadeiros.

As novas plantas têm uma fisionomia diferente no formato das flores em relação aos espécimes de hoje. Os cientistas não conseguiram explicar a causa destas diferenças. A equipa defende que esta descoberta pode ajudar a compreender melhor o processo da evolução das espécies, além de dar mais informação sobre o clima que existia ali há 30.000 anos.

Mais excitante, contudo, são as novas possibilidades de regenerar plantas que entretanto se extinguiram, e cujo material se mantém conservado na natureza por um processo semelhante. “Há uma oportunidade de ressuscitar flores que foram extintas da mesma forma que falamos em trazer os mamutes de volta à vida, a ideia parecida com a do Jurassic Park”, disse Robin Probert, do Banco de Sementes Milénio, Reino Unido, citado pela BBC News."

sábado, 18 de fevereiro de 2012

Conversa no quiosque

Enquanto pedia o Expresso à senhora do quiosque, duas senhoras falavam com ela sobre o Carnaval de Loures.
De repente, sem eu perceber bem como, uma delas atira: "antes de me deitar tenho de ver três telenovelas!"

quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

A irresponsabilidade da CGTP



Ainda ontem à noite, na TSF, ouvi o mesmo Arménio Carlos dizer que a greve geral dependia da vontade dos trabalhadores...
Será que entretanto todos lhe enviaram um sms a dizer para convocar a greve de 22 de Março?
A irresponsabilidade desta correia de transmissão do PCP não tem nome. Parece que querem mesmo que Portugal siga os passos da Grécia, com violência e destruição de tudo. 
O país merece este aumento da conflitualidade social para afirmar um líder sindical?

* nesta notícia do Público vale a pena ler os comentários: a maioria é contra esta "greve geral" da CGTP. Não deixa de ser sintomático.

terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

Amor não tem idade


Este senhor estava numa loja a escolher, cuidadosamente, um postal do Dia dos Namorados. Não resistindo à curiosidade perguntaram-lhe: "Está a comprar um postal para a sua mulher?". 

Ele respondeu: "A minha mulher morreu há 3 anos atrás com cancro mas todos os anos no dia dos namorados ainda lhe compro um postal e flores para que ela saiba que sempre foi e sempre será a única no meu coração."

No facebook.

segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

Coisas que se recebem por mail...

Como querem que me porte bem depois dos 40??? Se em criança vi que 

O Tarzan andava nú, 
A Gata Borralheira chegava a casa à meia noite, 
O Pinóquio mentia, 
O Batman conduzia a 320 km, 
A Bela Adormecida era uma preguiçosa, 
A Branca de Neve vivia com 7 anões, 
O Capuchinho Vermelho não ligava ao que lhe dizia a mãe, 
A Betty Boop andava vestida como uma prostituta, e 
O Popeye fumava erva !!!!!! 

Vamos não me lixem..........!!!!! Muito bons saímos nós...

domingo, 12 de fevereiro de 2012

Mais alguém contou?

A comunicação social assume o número e replica-o em todas as notícias.
A Arménio Carlos dá jeito que o número seja gigantesco.

Alguma autoridade independente contou? Polícia?

Em contraste com as imagens oficiais da manifestação, há esta:


Onde estão os apregoados 300 mil?


Blogosferando - 69



No Corta-fitas:

"Confesso que ando sem pachorra para comentar as ‘actualidades nacionais’, tal é o grau de descaramento, má-fé, estupidez, irresponsabilidade e ignorância que políticos, comentadores e muitos cidadãos comuns exibem nesta hora grave da História da Pátria.

Esquecem que Portugal esteve há pouco menos de um ano perante o abismo.

Esquecem que o Estado esteve objectivamente na bancarrota, incapaz de pagar salários e reformas, de honrar compromissos assumidos, de pagar dívidas de milhares de milhões de euros aos seus fornecedores, de que os 3 mil milhões de euros em dívidas do Serviço Nacional de Saúde são um exemplo eloquente.

Havia que mudar, tínhamos de mudar de vida.

E começámos por mudar de governo. Correu-se com um incapaz que agora revela os mais obscenos sinais exteriores de riqueza na ‘cidade-luz’, elegeu-se um Homem decidido a arrumar um passado de regabofe, de despesismo, de irrealismo, reorganizando o País para a produção, a competitividade, o trabalho, a poupança e a Justiça.

Em nome do Futuro de Portugal.

Por causa dos nossos filhos que merecem não viver a miséria que presentemente nos esmaga e humilha, como os nossos avós viveram a bancarrota desse regime da bomba, que não foi outra coisa a primeira república.

Ando pois sem pachorra para suportar um exército de comentadores fingidos e de políticos farsantes que, descontextualizando despudoradamente as palavras de Passos Coelho, sabem muito bem que este nunca chamou “piegas” aos Portugueses, antes nos desafiou a ter vontade de vencer.

Ando também sem pachorra para aturar as lágrimas de luto pelo carnaval de gente que parece não perceber que só folgando menos e trabalhando mais sairemos do fosso em que nos encontramos (e, caramba, querem carnavalar, tirem um dia férias!).

Ainda menos pachorra tenho para incendiários radicais que não descansam enquanto o País não fizer o haraquíri grego, desse modo se instalando entre nós a revolução social que aquelas hienas anarco-comunistas tanto desejam.

Nenhuma pachorra tenho, então, para esses madalenos socialistas que nestes seis anos deram prova da mais rematada imbecilidade no governo Sócrates e que, depois de terem afundado o País, agora protestam apenas com o objectivo canalha de atirar lenha para a fogueira e cortar o passo a quem está a corrigir os seus erros.

Um bom exemplo do que acabo de referir é ver o desplante de António José Seguro a sustentar que o Governo deveria ter utilizado o 'excedente' orçamental de 2011 para não reduzir os subsídios de Natal desse ano, omitindo o pormenor de que aquele resultado apenas foi alcançado graças às receitas extraordinárias da transferência do fundo de pensões da banca para a segurança social.

Se derem ouvidos a essas sereias, pobre Portugal, desgraçado País o nosso…

Em vez de tudo maldizer, atente-se antes nesta tão esquecida quanto certeira reflexão de Fernando Pessoa, para quem os vencedores da 'Grande Guerra' “Repararam que a força da Alemanha provinha, não da valentia notável dos componentes individuais dos seus exércitos, não da perícia especial dos seus chefes militares. Mas de ser na guerra e na paz e na disciplina particular da vida guerreira o que era na geral de toda a sua vida — uma nação plenamente organizada, coerindo dinamicamente em virtude de uma aplicação inteligente e estudada dos princípios de organização” (in "Como Organizar Portugal", págs. 5-6)

Organizemos, pois, o nosso País, mudando mentalidades e a nossa atitude como povo, reformando o Estado e libertando a sociedade, modernizando a economia e apostando em novos mercados e modelos de desenvolvimento. E, já agora, rejeitando também a charlatanice melíflua de que o futuro não existe sem nós e de que os outros nos devem a nossa própria existência.

É que, ou despertamos e vencemos ou continuaremos a decair até morrermos como Nação.

Pode ser duro mas a vida é mesmo assim."

E é isto.

sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

E vão 6 anos...

Hoje este blogue passa para 6º ano de existência.
Uma pequena eternidade desde o primeiro post, em 9 de Fevereiro de 2006.
Aqui chegados, destaco um interessante texto sobre a importância dos blogues nos tempos que correm em Portugal, no Abrupto.

Talvez em crise de crescimento, nos últimos tempos pensei em fazer uma pausa ou suspender o blogue. Sem prazos definidos.
Talvez mudar-lhe a natureza seja uma solução.
A ver vamos o rumo a tomar no futuro.

quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

Iniciativas simples e fantásticas

Num momento em que parece que só há motivos para baixar os braços e desistir, há quem ponha mãos à obra com iniciativas simples e fantásticas.
Ficam aqui duas.




Uma equipa para alegrar pequeno e graúdos com esculturas em balões, pinturas faciais, jogos, palhaços...
Para aniversários. Ou quem sabe para a festa de Carnaval.
Aproveitem, passem palavra e divirtam-se!



Uma ideia simples para fazer chegar produtos frescos e naturais a quem gosta, e sem intermediários. 
Ainda não em todo o país... mas para breve.
Seja consumidor, produtor ou agente de desenvolvimento, associe-se, divulgue, alimente-se bem.


O que é nacional é bom. Vê-se.

segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

Que entrevista!

Ricardo Araújo Pereira ao jornal I.

"Ricardo Araújo Pereira não gosta muito de jornalistas. Não é um problema religioso. É, segundo ele, uma experiência prática. Parece que os jornalistas tendem a fazer as perguntas de cor, mas recitam-nas mal. Recordações dos tempos em que preenchia criativamente os oráculos das reportagens que fazia, talvez. De modo que optou por fazer as entrevistas à distância e com algum controlo das respostas publicadas. Esta teve as suas regras: uma bateria de perguntas, outra de respostas, segunda bateria de perguntas, mais respostas, perguntas finais e as respectivas respostas. Parafraseando o nobre Clausewitz, para RAP a entrevista é uma espécie de guerra por outros meios e o entrevistador um saco de pancada. Do sentido da vida aos malefícios da publicidade e à razão por que não vemos mais vezes os Gato Fedorento na televisão, nada escapou a esta entrevista. Esperamos que os sobreviventes se divirtam.
Na seminal “Antologia do Humor Português”, Ernesto Sampaio defende no prefácio a ideia de Freud de que o humor nos serve para ultrapassar a dor e a morte dando um sentido à vida. Exemplifica isso com a história de um condenado à morte que, perante o patíbulo, pensa com os seus botões: “Ora aqui está uma semana que começa bem.” Além das hienas somos os únicos animais que conseguem rir. O humor tem que ter algum sentido especial?
As hienas não riem, assim como os papagaios não falam. Aquilo é um arremedo de riso, não é riso a sério. Por muito que certos antropólogos aleguem ter descoberto certas manifestações parecidas com o riso em macacos e até em cães, acho que o homem é o único de quem se pode dizer com propriedade que se ri. Parece-me que isso se deve ao facto de também ser o único que sabe que vai morrer. Os animais não sabem, e por isso não se riem. E Deus – pelo menos o Deus da Bíblia – sabe que não morre, e também não se ri. Nós temos essa informaçãozinha, e convivemos com ela diariamente. Somos todos esse condenado à morte que se ri a caminho do cadafalso. É difícil imaginar um comportamento mais absurdo, não é? Há um verso do Philip Larkin que diz que a coragem não livra ninguém da sepultura. A morte não é diferente para os que a temem e para os que a enfrentam. Concordo. Mas a vida se calhar é diferente. Vive-se melhor sem medo, acho eu. Não quero com isto dizer que a capacidade de rir da morte seja uma grande vitória, repare. Na verdade, é muito pouco. Mas o certo é que a gente não tem mais nada.
Existe um humor tipicamente português? Das anedotas do Bocage ao texto de Alexandre O’Neill em que ele garante, na sua autobiografia, que é “moreno português”, “mas sofre de ternura, bebe de mais e ri-se do que neste soneto sobre si próprio diz”, tem alguma coisa que o distinga do resto do humor do planeta?
Uma vez o Alberto Pimenta disse que Portugal era igualzinho aos outros países. E o entrevistador perguntou: “Acha mesmo que é igual?” E ele: “Eu não disse que era igual. Disse que era igualzinho.” Parece-me uma definição magnífica, até porque não a compreendo totalmente, e julgo que se aplica ao humor português, se ele existir.
Há alguma coisa de universal no humor? Quando passados 30 anos nos rimos dos sketchs de como reconhecer um maçon ou as discussões das seitas na “Vida de Brian”, dos Monty Python, isso significa que somos iguais aos britânicos ou aquilo pode ser percebido por gente de todo o planeta?
Há coisas universais no humor, exactamente na mesma medida em que há coisas universais no ser humano. Muitas das histórias reunidas no Philogelos, que é a mais antiga colecção de piadas que se conhece, continuam a fazer-nos rir hoje. Sabe aquela do homem que diz: “O escravo que me vendeu ontem morreu.” Responde o vendedor: “Curioso, ele comigo nunca fez isso.” Lá está, hoje não há escravos mas há papagaios mortos. Mesmo aquelas em que nos faz falta uma referência equivalente às vezes têm graça. Como a do eunuco que contraiu duas hérnias no escroto. Essa era muito popular. Merecidamente, aliás.
Noutros tempos, O’Neill escrevia que “o medo vai ter tudo/quase tudo, e cada um por seu caminho/havemos todos de chegar/quase todos/a ratos. Sim, a ratos”. Somos de facto um povo de brandos costumes com a cultura do respeitinho incorporada no ADN?
Confesso que não sei que tipo de povo somos e tenho medo de generalizações. E de aranhas, também. Suportar 48 anos de ditadura não deve ser exactamente medicinal, e deixa marcas, mas se ficasse alguma coisa incorporada no ADN ainda hoje havia Estado Novo. Eu gosto do povo. Talvez mais do conceito de povo do que da sua demonstração concreta, que se aglomera em redor de acidentes rodoviários e insulta as camionetas que levam os arguidos a tribunal. Mas gosto.
Os surrealistas inventaram a figura dos cadáveres esquisitos para animar a lareira. Comente as seguintes frases:
“É possível rir do Memorando da troika ou estamos demasiado entretidos a tentar esquecê-lo?”
Como lhe disse há pouco, acho que é possível rir da morte. Do Memorando da troika já tenho dúvidas. Há um limite de tragédia a partir do qual o riso talvez seja desadequado. Mas houve eleições e uma maioria esmagadora de portugueses votou nos partidos que firmaram o acordo com a troika. Suponho que isso tenha graça. Uma graça amarga, mas tem graça.
“Gaspar tem muito mais graça que Teixeira dos Santos.”
Concordo. Gosto muito daquele estilo inspirado na Telescola. Vê-se que ele podia falar mais depressa, se quisesse, mas não o faz porque não confia na nossa capacidade para o entender. Receio que o trabalho que ele está a fazer possa ser desastroso para o país, mas os cavaquistas não gostam dele. Portanto alguma qualidade ele terá.
“Quem terá feito e o que significam aqueles maravilhoso pins com a bandeira nacional que usam Passos Coelho e os seus ministros?”
Os pins significam que o governo é mesmo muito patriota. É patriotismo consubstanciado em pins – que é a melhor forma de o consubstanciar, na medida em que consubstancia sem dar muito trabalho a quem o vai consubstanciando. E permite a Passos Coelho apoiar a governação na mesma base ideológica que sustenta a violência doméstica: “Eu bato-te mas é para teu bem.” Quanto à origem, parece-me evidente que foram feitos na China.
“Se a democracia funcionasse era proibida.”
Pois, e tal. Mas continuo a preferir uma democracia que funciona mal àqueles regimes que funcionam bem de mais.
“Tirando os oráculos da SIC Notícias, é mais fácil gozar com Arménio Carlos ou com o Carvalho da Silva?”
É mais interessante gozar com quem tem poder, e os sindicalistas têm pouco. Mas a resposta à sua pergunta é, sem dúvida nenhuma, Arménio Carlos.
Voltemos às perguntas. Há dez anos os Gato Fedorento apareceram no programa “Perfeito Anormal”. Até hoje, cresceram ou engordaram?
Pessoalmente, espero ter engordado. O meu projecto sempre foi o da engorda. A luta pela paz mundial já estava tomada pela Miss Universo, com muita pena minha.
Não acha que perderam pelo menos a vontade de fazer programas televisivos pelo caminho?
Nós nunca tivemos grande vontade de fazer programas televisivos. Não somos actores nem profissionais de televisão. Não temos contrato com nenhuma estação. Às vezes fazemos programas televisivos, quando nos apetece e enquanto isso nos diverte. Por vontade da SIC, o Gato Fedorento Esmiúça os Sufrágios teria continuado. Nós ficámos sinceramente agradecidos com o interesse deles, mas achámos que devíamos parar. Se tivéssemos aceitado, agora o estaria a perguntar-me se eu não achava que devia fazer uma pausa. Prefiro assim.
Luiz Pacheco dividia os amigos pelo dinheiro que lhe davam. Hoje a maior parte dos grandes comediantes ganham a vida a fazer publicidade. Isso tem implicações no humor que existe hoje em Portugal?
Confesso que não tinha dado por esse fenómeno. Do leque de grandes comediantes, quais são os que constituem essa maior parte que ganha a vida a fazer publicidade?
Os Gato Fedorento estão sempre a fazer publicidade. Acha que o facto de um grupo ganhar bastante dinheiro a fazer publicidade pode alterar a sua disposição para uma crítica mais radical à sociedade?
É uma pergunta muito específica, não é? O seu receio de que as pessoas alterem as suas opiniões relativamente à sociedade não se estende àqueles que ganham pouco dinheiro a fazer publicidade nem a quem ganha bastante dinheiro a fazer outra coisa qualquer. Só quem ganha bastante dinheiro a fazer publicidade parece atreito a alterações de disposição. No meu caso não posso ajudá- -lo, uma vez que um dos primeiros sketches que fiz foi convertido num anúncio para o Montepio Geral. Foi mesmo no princípio de tudo, ainda nos tempos da SIC Radical, e por isso não tive tempo para me aperceber de uma eventual alteração na minha índole. Talvez possamos encontrar a resposta no estrangeiro. George Carlin fez publicidade à Fuji, Woody Allen à Seibu e à Telecom Italia, Jerry Seinfeld à American Express e à Microsoft, Groucho Marx à DeSoto, Stephen Colbert ao banco FirsTier, John Cleese à American Express, à Compaq, à Schweppes, à Sony, à Magnavox, à Sainsburys, à Accurist, ao banco islandês Kaupþing e aos pretzels australianos Planters. Infelizmente, nunca ocorreu a ninguém perguntar-lhes se o facto de ganharem bastante dinheiro a fazer publicidade alterava a sua disposição. Não é incompetência dos jornalistas estrangeiros: o problema é que lá fora a actividade de fazer publicidade não é criminalizada moralmente.
Estamos num fundo do poço em termos de humor nacional inteligente – e quer o RAP quer os Gato praticamente desapareceram do espaço público (a não ser da publicidade). Esta altura não seria das mais próprias para um projecto a sério de humor? Estão a pensar nisso?
Não é a primeira vez que alguém na imprensa assinala o meu desaparecimento do espaço público. Compreende-se: todas as semanas escrevo uma crónica numa publicação regional chamada “Visão” e faço um programa, também semanal, numa obscura rádio pirata que se chama TSF. Não há-de o espaço público dar pela minha falta… Pelo que percebo, por “projecto a sério de humor” entende-se aqui um programa de televisão. Nesse caso, não estamos a pensar nisso.
Por que razão não estão a pensar fazer um programa de televisão?
Porque já fizemos vários, e a nossa vida não é só fazer programas de televisão. Há mais duas ou três coisas que nos interessam. E a televisão não foge.
Não acha que fazia falta um programa como o “Dailly Show” em Portugal? Alguma vez pensaram fazê-lo?
Não, tal nunca nos passou pela cabeça. E não sei se se pode dizer de um programa de televisão que faz falta. Às vezes fazem-me falta coisas como por exemplo uma esfregona. Um programa de televisão é mais raro.
Já pôs a hipótese de se autonomizar dos Gato Fedorento?
Não. Uma vez que sempre fomos autónomos uns dos outros, autonomizar-me dessa autonomia seria pleonástico.
Alguma vez a RTP ou a SIC lhe disseram que acalmasse um pouco o tom da sátira? Se sim, em que circunstâncias?
Nunca, nem num sítio nem no outro. Mas o director de programas era sempre o mesmo: Nuno Santos.
Parece que o país, e ainda mais os humoristas, se renderam ao Memorando da troika. Está de acordo? Vê alguma explicação para isso?
Mais uma vez, preciso de ajuda para decifrar o enunciado da pergunta. Em que medida é que os humoristas se “renderam” ao Memorando da troika “ainda mais” do que o país?
Se olhar com atenção, verá que os sindicalistas “façanhudos” estão a manifestar-se, os indignados acampam em praças e os Gato Fedorento estão na Meo. Concretizando, tendo vocês uma voz e uma imensa capacidade de fazer humor sobre aquilo que se está a passar, não parece que desistiram disso?
Peço desculpa, estava a olhar sem atenção. Não admira que me escapassem certas subtilezas sociológicas. Agora que, seguindo o seu conselho, olho com atenção, constato que de facto a sociedade portuguesa se divide em três grupos: os sindicalistas façanhudos, os indignados e os Gato Fedorento. Os primeiros manifestam-se, os segundos acampam e nós estamos repimpados no MEO, a trair o povo português em geral e a classe operária em particular. Sempre estive convencido de que a minha profissão consistia em fazer rir as pessoas. É a minha única ambição, e não é pequena. Fa- ço-o por duas razões estritamente egoístas: primeiro, porque me pagam; segundo, porque gosto de ver o que acontece a uma pessoa quando ela se ri. O que mais me interessa na actividade de fazer rir as pessoas não é o que eu lhes dou, é o que elas me dão a mim. Repare que continuo a não encontrar virtudes para contrapor à degradação moral que vai sugerindo. Pelo contrário, vou descobrindo mais falhas, e ocorre-me outra ainda: a ignorância. Eu não sabia que um humorista era obrigado a fazer humor político na televisão. Pensava que podia falar sobre o que lhe apetecesse, onde lhe apetecesse. Que, se eu quisesse falar de política na “Visão” e na TSF, podia fazê-lo, mas que também podia falar sobre outra coisa qualquer. E que, se não quisesse fazer televisão, também tinha essa liberdade. Percebo agora que a única comédia digna desse nome é o humor político televisivo. Tudo o resto é desistência e rendição. Faz falta uma vanguarda humorística que me oriente.
Além do malévolo jornalista que parece impor-vos que façam televisão e a revolução, negando à partida a conhecida canção do Gil Scott Heron de que a revolução não seria televisionada, a verdade é que se o projecto colectivo os Gato Fedorento não faz programas de televisão, também não faz imprensa, teatro, rádio e cassete pirata. Nos últimos três anos têm feito apenas publicidade. Nesse campo fizeram um anúncio genial para a Meo, um filme a gozar com os anúncios em forma de Lip Dub. Como vos surgiu a ideia de fazer esta obra notável?
O modelo da nossa participação nos anúncios alterou-se. A agência de publicidade da PT, a Partners, sempre escreveu os anúncios, como é normal. Mas o ano passado a Partners inventou esta espécie de série publicitária e pediu-nos que escrevêssemos o guião. Fizemos essa música de Natal que explicava detalhadamente às pessoas o modo como elas estavam a ser persuadidas a subscrever o MEO. Achámos que produzia um efeito bastante ridículo, porque ninguém diz: “Eu agora estou a seduzir-te imenso com este meu fabuloso encanto.” Ou talvez diga, mas não consegue nada com isso. Portanto, como anúncio, tinha tudo para fracassar. Mas o Luís Avelar, que além de ser o administrador da PT com o pelouro do marketing é um requintado apreciador de filosofia da linguagem, achou graça e aprovou. É óptimo, porque se correr mal a culpa é dele.
Os Gato Fedorento têm algum projecto em carteira?
Sim. Queremos salvar o país e a própria humanidade através do poder redentor das piadas. Estou a brincar consigo. Continuamos a não ser o Messias que procura. Há uma cena no “Stardust Memories” em que o Woody Allen pergunta a uns extraterrestres o que é que pode fazer de realmente importante pelo mundo. Eles respondem: “És um humorista, pá. Queres prestar um verdadeiro serviço à humanidade? Escreve piadas mais engraçadas.” O projecto é esse. Quando estiver pronto avisamos. É coisa para levar tempo."

sábado, 4 de fevereiro de 2012

Nem mais


Pedro Passos Coelho, depois de o secretário-geral do PCP, Jerónimo de Sousa, o ter questionado sobre o que queria dizer quando prometeu cumprir o acordo da troika “custe o que custar".

2012 sem Carnaval


Se eu preferia que não se acabasse com os feriados e Carnaval? Preferia.
Se fazia sentido manter o "feriado" do Carnaval quando outros feriados são abolidos? Não.

O Governo foi lógico e consequente com a estratégia definida. O país precisa de gerar riqueza.

Ao afirmar isto não ignoro que mais dias de trabalho não significam mais produtividade. Em países do norte da Europa, com menor carga horária que nós, conseguem maior produtividade. Isso deve-se a quê? A organização, a estratégia, a objectivos bem definidos, a boas lideranças (e não chefias).

Perante o anúncio feito pelo Primeiro-ministro, tudo o que mexe no país começou a protestar. Lembram o precedente de Cavaco Silva nos idos dos anos 90, em tom de ameaça.
A CGTP de Arménio Carlos, depois de perder a greve dos transportes desta semana, considera inadmissível que o Governo não dê tolerância de ponto aos funcionários públicos (será que este sindicato só os representa a eles?).

E... por que estamos falidos?

quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

Vai intensificar-se

Dizem que vem aí uma vaga de frio. Coisa rara no Inverno. O mais normal seria estar calor.
Esta anormalidade climática vai intensificar as reportagens televisivas a cidadãos incautos que estranhem o frio no inverno. Ou até a aldeões que acham normal haver frio no inverno.
Convém agasalhar-se bem. Só isso.

No verão é provável que haja calor. Sugiro que agendem desde já visitas às terras alentejanas para preparar as reportagens respectivas.
Nessa altura convirá estar despido. Só isso.

Há quem diga que estas oscilações tem a ver com as estações. A saber: primavera, verão, outono e inverno.